8 de ago. de 2011

“As dúvidas são muitas, mas tenho grandes certezas, e estas me movem”.


Mirelly Francesca Sarmento Câmara. 27 anos, advogada, pós-graduanda em Direito Constitucional. Fui catequista na paróquia de Santa Luzia, em Maceió; coordenadora geral do Centro Acadêmico Guedes de Miranda (Direito UFAL); coordenadora financeira do DCE UFAL e Presidente estadual da UJS/AL. Hoje, presidente do PCdoB Maceió e Direção Nacional da UJS.

Mirelly, obrigado por esta conversa.com. Você é blogueira, o baiãodedois é legal e criativo. Como ele nasceu? Você gosta de escrever?

É bom participar dessa conversa, eu que agradeço o convite! Bem, o Baião é um Blog conjunto meu e de Ossi Ferreira, pensado com muito carinho e executado no imprensado do dia-a-dia. Criamos esse espaço com objetivos pessoais, como um canal de diálogo, já que moramos um tanto distante, mas também atentos à necessidade de colaborar na luta de idéias. Posso ser bem precisa quanto ao surgimento do projeto: foi durante o Encontro Sobre Questões de Partido, em SP. Lembro que falei na minha intervenção justamente da importância de os militantes colaborarem na compreensão da realidade brasileira através da elaboração e compartilhamento de opiniões. Partimos então para a prática e, juntos, um ajuda o outro e fica mais fácil. Porém não é um Blog monotemático: falamos de política, música, impressões do cotidiano, coisas de meninas e de meninos, de tudo um pouquinho. http:blogbaiaodedois.blogspot.com

Bem, mas quem é você? Uma jovem que já tem uma trajetória rica de atuação política na UJS. Como isso começou?

Sou filha de uma família de classe média. Estudei em escola particular, e aos 18 ingressei na Universidade Pública. Acredito que muito do que somos é formado pelas pessoas que temos à volta, então, o que sou hoje são também meus amigos e minha família. Meus pais são minha principal fonte de formação. Tenho um irmão, mais velho, de quem levei alguns cascudos, mas que também me protegeu sempre. Mainha às vezes nos levava para a universidade, quando tinha que assistir aulas e não tinha com quem nos deixar. Ela formou-se em Educação Física na UFAL e era também militante do Movimento Estudantil. Foi do DCE na Gestão Revertério. Acho que tudo começou aí. Ela e meu pai filiaram-se ao PCdoB e de certa forma havia já esse canal aberto quando ingressei na Universidade. Porém não havia uma influência direta e eu me sentia muito à vontade para circular entre os vários grupos e ideologias da Universidade. No 49º Congresso da UNE fui eleita delegada pelo curso, isso eu já estava no 4º ano da faculdade. Foi então quando me filiei à UJS e um ano após, ao PCdoB.

Você terminou os estudos? Gosta de ler, estudar?

Estou formada em Direito, já com a minha OAB, graças a Deus. No primeiro semestre de 2012 concluo minha pós em Direito Constitucional e vou tentar o Mestrado. Não sei quando, mas vou (risos). Não tenho muita pressa, vou devagar vencendo cada etapa e até agora essa estratégia tem dado certo. É o meu jeito: uma coisa de cada vez!

E quais são teus maiores outros gostos? Literatura, música, balada… Qual tua cara, Mirelly?

Gosto de trocar idéias com os amigos, vagar pela net, ver TV, namorar. Não sou muito baladeira, prefiro um programa mais light. Me atrai o contato com novas tendências da música, literatura e programas culturais. Mas não sou uma “bossal culturalesca”, de jeito nenhum! Passeio com tranquilidade entre conteúdos mais variados de jornais, livros e revistas; ouço forró, pagode, rock, reggae, bossa nova, samba; gosto de tudo um pouco. Fico profundamente irritada com rótulos e preconceitos que alguns insistem em impor a determinados conteúdos e ritmos. Pra mim, se é pra ser feliz, tá valendo! Minhas últimas aventuras: Livro, A Mulher de Trinta Anos (Balzac); Filme, Grande Demais para Quebrar; Música, baixei o DVD da Paula Fernandes!

Como e quando foi isso de PCdoB?

Minha militância iniciou-se na Universidade, o que lamento profundamente: gostaria de ter tido a chance de militar no ME Secundarista, tão de luta. No movimento estudantil de Direito tive minhas primeiras experiências e transitei por diversas correntes de pensamento. Cheguei a duvidar da importância de um partido político, influenciada por idéias do multiculturalismo ao anarquismo e teorias pseudo-revolucionárias. Foi, por incrível que pareça, no Fórum Social Mundial de Porto Alegre, em 2005, que caiu a minha ficha. Lá eram majoritárias as correntes da contra-organização, pelo movimento espontâneo, mas soaram mais conseqüentes aos meus ouvidos as sábias palavras de Boaventura de Souza Santos e José Saramago, alertando para a necessidade fortalecermos a democracia e os movimentos de chegada do povo ao Poder. Enquanto crescia minha admiração pelo Presidente Lula, em quem tinha votado, me encantou ver um presidente a discursar na defesa apaixonada do socialismo: Hugo Chavez. Não tive mais como deixar de enxergar o que tinha ficado óbvio: para chegarmos ao socialismo o povo precisa chegar ao poder. Para isso, é necessário um Partido de vanguarda, marxista-leninista, que compreenda com acuidade a realidade e aponte para o povo, caminhando junto com ele, o caminho para chegar lá. Daí para enxergar no PCdoB esse partido, foi um pulo. Ingressar no PCdoB foi uma decisão amadurecida, bem pensada e que mudou a minha vida. Na época, tanto eu quanto o partido aqui em Alagoas passávamos por momentos de definição e acredito que os rumos agora estão bem determinados. Tenho muito carinho e gratidão por esse partido, que foi e continua sendo essencial na minha formação política, profissional e de cidadã.

Você tão jovem já preside o partido em Maceió. Além da experiência política acumulada na juventude, quais características suas que você pensa fazê-la merecedora de tanta confiança do partido?

Acho que fui conquistando a confiança do partido na medida em que fui também confiando nele. Quando a gente acredita em uma causa nos entregamos a ela e, quando essa causa é justa, recebemos os méritos dessa entrega. Talvez minha experiência como catequista (de 2000 a 2005) tenha desenvolvido em mim uma capacidade de lidar com conflitos e diferenças desde cedo. A gente ensinava às crianças, mas muitas vezes tínhamos que lidar com problemas familiares, da comunidade, pessoais, enfim, ter habilidade para conjugar tudo isso.

Acho que é preciso paciência para perceber os frutos da nossa ação. Compreender que os resultados serão aqueles que a vida quer e que muitas vezes não corresponderão às nossas expectativas. Não cheguei ao Partido para saciar anseios pessoais, para “me resolver” ou “me encontrar”, mas para construir uma nova realidade para meu País. Ao contrário, essa luta muitas vezes requer que deixemos de lado projetos e planos, que percamos um pouco de nossa paz interior, nossa saúde, e tudo mais que o mundo aponta como necessário para sermos felizes. E, que contradição, é assim mesmo que sou feliz! Ser presidente do comitê da nossa Capital tem sido um desafio grande para mim, porém o partido pode ousar em confiar essa tarefa a uma jovem militante também porque nossa política é coletiva e conto com a parceria e experiência dos demais camaradas que me acompanham nessa peleja.

Como quadro de partido, jovem e mulher: o que mais faz falta em tua formação e na atitude do partido para tua formação?

Como militância pra mim não é passatempo, mas projeto de vida, tenho que conciliar o ritmo de tudo e isso às vezes exige mais dedicação a uma ou outra coisa em determinados períodos da vida. Porém nada que cause grandes transtornos à minha formação, que acredito ser, acima de tudo, responsabilidade própria minha. Não vejo que minha condição de mulher ou de jovem tenha dificultado minha trajetória em ponto algum. Se houve dificuldades nesse sentido, não percebi. Sinto que o Partido tem crescido muito e por vezes, infelizmente, não temos pernas para acompanhar esse crescimento. Vi alguns companheiros se perderem na batalha, pela vida, por questões pessoais ou políticas e me entristece que não tenhamos tido condições de trabalhar mais próximo a eles e talvez evitado o afastamento. Por isso mesmo vejo com grande entusiasmo essa nova política de acompanhamento de quadros do PCdoB.

Juventude brasileira – qual a cara dela, os anseios dela, segundo tua vivência?

Isso de decifrar a juventude é bem complicado. Sempre é complicado generalizar. Acredito que hoje há uma busca maior por auto descoberta. A internet ampliou o mundo de tal forma que já não sabemos o que é real e o que é “fake”. A cultura massificada acaba por massificar também grande parte dos nossos sonhos. Por outro lado, há a oportunidade para a criatividade, e a opinião e personalidade de cada um se globaliza na blogsfera.

Vemos por todo o mundo os jovens rebelando-se, em busca de melhores condições, mais oportunidades. A juventude não é alienada e passiva, como a mídia tenta passar. Acontece que é muito difícil desvendar a cortina de fumaça que lançam à nossa frente e passar a enxergar os verdadeiros fios e cabos que movem toda a estrutura.

Hoje no Brasil novas perspectivas foram abertas. Mais possibilidades de formação, de ingressar na Universidade, de fazer um projeto dar certo. Vejo um certo otimismo no ar, apesar das dificuldades externas e dos grandes dilemas internos.

Mas as dificuldades para a juventude são grandes, pois não?

É, são grandes mesmo! O “mundo moderno” exige muito do jovem, que se decida, que produza, que se forme, profissionalmente e pessoalmente, cada vez mais cedo. Felizmente não caí nessa pilha: quero ser competente e feliz, naquilo que eu escolhi ser. E como e quando vou escolher… eu que decido! Também vejo como uma ilusão essa de “escolha definitiva”. A vida está aí pra ser vivida e o mundo é complexo demais para ser reduzido a escolhas feitas na juventude. Acho que esse é um grande dilema hoje para os jovens, que são cobrados para encontrar soluções para os problemas do mundo, porém apenas lhes são apresentadas ferramentas para solucionar questões individuais, em âmbito familiar ou corporativo. Ainda faltam perspectivas e oportunidades, exige-se compromisso com uma sociedade que não os acolhe e apego a causas que lhes foram impostas. Conseguir vencer tudo isso e passar a integrar um projeto coletivo, com responsabilidades compartilhadas, para além da competição, requer esforço pessoal, mas também um tanto de sorte, tanta é a pressão e o controle ideológico contra tal.

E você? Onde você pensa estar ou alcançar em dez anos?

Olha, em meu coração tenho Maceió como a melhor e mais bonita cidade do Brasil. Com muitos problemas, sim, mas não a trocaria por nenhuma outra. Apesar disso, porém, apenas duas coisas me fazem ainda estar aqui: a militância no PCdoB de Alagoas e meus pais. Meu coração está dividido irremediavelmente entre Alagoas e Pernambuco e creio que isso nunca mais se resolverá! Eu e Ossi temos conversado e em breve chegaremos a uma definição quanto a isso. Ele mora em Olinda, tem uma vida lá e para mim seria mais fácil sair do meu lugar para acompanhá-lo. Chega uma hora em que a gente quer o nosso cantinho e isso fica mais forte que o aconchego da casa dos pais. Por outro lado, sei que ainda tenho muito trabalho a fazer por aqui, são muitas demandas, muitas expectativas. Alagoas merece crescer, se desenvolver e sinto que o melhor que posso fazer pela minha terra é contribuir para o avanço na sua política. Vejo isso como um dever ao qual não posso me furtar.

Ainda não decidi se quero ser mãe, gostaria de já ter claro isso: SIM ou NÃO! Mas a dúvida persiste e acho que quem vai acabar decidindo por mim será a natureza mesmo. Profissionalmente, pretendo avançar nos estudos e, quem sabe, dar aulas, ser professora. Sim, é uma coisa que gostaria de fazer.

Então, tudo isso eu falei para dizer que: não sei como será daqui a um ano, quem dirá daqui a dez! Sei que quero continuar militando no PCdoB, crescendo profissionalmente, colaborando na luta de idéias, e permanecendo ao lado das pessoas que amo. As dúvidas são muitas, mas tenho também grandes certezas, e são essas que me movem.

Publicado por waltersorrentino em 08/08/2011


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