15 de fev. de 2009

Vida de artista é assim!!

"Viva o espírito do homem-teatro...”

(Eduardo Dusek)

“(...) pois como tantos brasileiros, profissional de suicídio e defende muito bem o seu salário.”
(Luís Gonzaga Jr)



Para mim, é importante lembrar que toda tentativa de expressão artística no Brasil exige luta, peleja, batalha, empenho. Suor de circo. Cada passo em direção a o palco é um ato.
Ser artista, hoje, para mim é sonhar em ver a verdade acontecer, querer ir mais além do meu corpo e do corpo do outro também. É querer vida melhor nesse planeta, mais beleza de pensamento ou simplesmente mais pensamento.
Ser artista, aqui no Brasil, é ouvir muitos nãos com sorriso no rosto; é estudar constantemente e continuar ignorante;é, muitas vezes, ter emprego em vez de trabalho e, ao mesmo tempo, junto a tudo isso ter um elenco de referências fortíssimas,verdadeiros guerreiros, em cada uma das classes artísticas: no teatro, na música, no circo, na poesia/literatura, na dança,nas artes plásticas e no cinema.
No meu tempo é de recriar as estruturas, mais uma vez, para que possamos continuar criando, pois há pouquíssimos meios para o artista. É necessário empreender, isto é, dominar outros ofícios para que o nosso aconteça. Temos que inventar nossa existência, força nossa presença, pois ela não está sendo exigida; precisamos estar, invariavelmente, nos lembrando e á sociedade e ao Estado da importância do que fazemos, ou seja, da nossa importância. Quando se chega ao momento de criação, depois de tanto, é preciso se sacudir como um chão molhado, tirando o excesso, esvaziar-se. Ou seja, é imprescindível ter vontade e o amor bem maiores que os dedos.
A impressão que tenho é que quem ainda tenta fazer arte, seja novo ou antigo, o faz tomando por algo muito semelhante á fé religiosa (assim eu o faço).
Por pura devoção e entusiasmo.
Por essa sensação de forte emoção e alegria cada vez que nos encontramos com a poesia desses ofícios que trabalham para alcançar o outro em um gesto, em uma palavra ou em uma cor; em um som ou mesmo em um profundo silêncio.
E, principalmente, por uma crença que não cala, de que o mundo poderá ir mais longe, as pessoas poderão ver além, e que tudo ainda terá uma chance enquanto as salas de teatro, nossas casas, estiverem abertas.

( Amora Pêra)





Trecho do livro de Marília Pêra “ Cartas a uma jovem atriz”

Texto de Amora Pêra e foto de Leandro Cazumbá.

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